domingo, 4 de outubro de 2009
Porque..
domingo, 5 de julho de 2009
MAMÃ
sexta-feira, 3 de julho de 2009
É tão simples...
Texto
domingo, 31 de maio de 2009
«[...]o sofrimento provém do desejo, [...]se conseguirmos suprimir o desejo das coisas, teremos conseguido eliminar a dor que produz a sua privação[...].»
A primeira coisa que me veio à cabeça quando li isto, foi que é uma grande verdade, e uma grande mentira.
Sim, é verdade que o desejo de ter algo (material ou não) é, na maior parte das vezes, a causa do sentimento que nos provoca a perda disso, ou simplesmente o facto de não o termos. Sem o desejo por algo, não sofremos pela falta desse elemento; sem o desejo por nada, estamos em tal estado "zen" que tudo nos é insignificante, nada nos causa sentimento. Podemos dizer que sem o desejo, viveríamos em "utopia", um mundo perfeito, sem crimes e pecados, por que na realidade, todos são consequência dum desejo louco. Visto desse modo, o desejo é um defeito que vive em toda a gente.
Mas, sem o desejo por nada, como é que sentiríamos a alegria de conseguir algo? O que é que nos daria a força para continuarmos nos momentos difíceis? O desejo é a base para tudo o que conseguirmos, é o incentivo que tiveram todas as civilizações, os egípcios construíram as pirâmides pelo desejo de magnificência e superioridade, desde que os seres humanos raciocinaram, inventaram os deuses pelo desejo de protecção, e de não viver na ignorância. O desejo é a chave para a vida. É uma qualidade imprescindível para a vida de tudo e todos.
domingo, 17 de maio de 2009
O DEBATE
Eles discutem,
As palavras correm pelo ar,
Chocam,
Tentam subir
E conseguir a atenção
De um ouvinte.
Palavras seguras,
Opiniões diversas,
Conversas cruzadas.
Eles falam alto,
Com um sorriso meio sarcástico,
Procuram ser os ouvidos
E não os ouvintes.
Gaguejam,
Sobem o tom,
As palavras chocam,
O ouvinte torna-se
No ouvido.
Há sempre um,
Com mais poder,
Mais seguros
Que se mantêm contra,
Talvez para sobressair.
Elas conversam,
Sempre concordantes,
A vida,
Os horários,
Os problemas,
As novidades.
No ar,
As palavras não estão cansadas,
Fortes nem divergentes,
Senão equiparadas.
Ajudam-se,
Desabafam.
Conversas cruzadas,
Palavras no ar,
Ouvintes e ouvidos.
…
Sou consciente.
Sou consciente. Sou consciente de que pouco me lembro, de todos os meus anos de vida. Falam-me que fiz coisas maravilhosas que mudaram vidas. Dizem-me que fui jovem, belo, que todos me olhavam com orgulho e que viam em mim juventude e frescura. Mas os anos levaram-ma toda e deixaram-me com as minhas rugas. Já não olham para mim com orgulho, mas com pena. Já não sou fresco, como o verão, agora sou branco e frágil, como o inverno.
Contam-me que amei profundamente. Que ela era a minha vida e a minha paixão. Por minha tristeza, não me lembro. Será que não a amei o suficiente? Dizem que o amor verdadeiro nunca se esquece. Mostram-me fotografias em que sorria, abraçava e sentia. Não me vejo nelas. Por vezes esqueço-me de quem sou. Não me conheço muito bem. E quem me conhece, fala-me sobre uma pessoa que me é estranha. Tento encaixar-me no meio da sociedade, mas as pessoas vêem-me como um ponto, e pior, fazem-me sentir como um ponto ou uma mancha.
Gostava de amar, de sorrir e conversar. De ter planos, amigos e recordações. Sou uma certeza, de que vou ser assim até ao resto da minha vida. Entristece-me saber que para mim, eu nasci há pouco tempo, não tive uma infância ou adolescência, e que não terei. Sou uma dúvida. Será que amanhã, toda a minha vida me voltará à cabeça? Será que aquele belo jovem das fotografias tornar-se-á em mim? Sou realista. Acredito que todos nascem, já nasci, é das poucas memórias, ou melhor, dos poucos episódio que eu me lembro.
Brinquei num parque com areia e pedras.
Todos crescem, no meu dedo vejo uma marca circular em branco, e sei que lá esteve uma aliança. E todos morrem, disso não me lembro, sei que não aconteceu. Não temo por isso, pelo contrário, vai dar-me uma oportunidade de renascer, e viver, e lembrar.
Tenho pessoas que se preocupam comigo, que me olham com amor e carinho. Mas eu não as conheço. Para mim, elas são como qualquer outra pela que eu passe na rua. Choram, de alegria por me verem, pai e marido, e de tristeza por eu as ver, com indiferença. Trazem-me grandes discos de vinil, dizem que eram as minhas músicas preferidas, e que querem que eu me sinta
Batem à porta. É o filho. Diz que é meu filho, mas eu sei que não. Não é o meu filho, mas o do homem das fotografias. Abraça-me, beija-me, chora. Eu olho para ele, espero que ele se vá, que me deixe sozinho, que não me faça sentir mal por esquecer. O telefone toca. É a nora. Pergunta por mim, se eu tomo os medicamentos, deseja-me as melhoras, desliga. Ele muito fala, conta-me a história da minha vida. As minhas casas, a minha família. Vai-se embora.
Pelas portas ouço gritos de agonia, gritos de tristeza e raiva. É a mulher. Traz-me flores, e bolos, e roupa. Ama-me mais do que tudo no mundo. Conversa comigo, ao meu lado. Não gosto de a ver, por que ela sai sempre desiludida ao ver a minha indiferença, o meu interesse nulo. Diz-me que eu lhe cantava e que dançávamos, mas é--me igual.
Vão-se embora, estou finalmente a sós. Sento-me na cadeira. Fico a dormir, à espera de não acordar em mim, mas num novo eu.